segunda-feira, 23 de setembro de 2024

 

Um Espírita no Umbral



Por: Hugo Lapa 



Um homem de 55 anos, espírita, sofreu um acidente e morreu de repente. Ele se viu saindo do corpo e chegando a um lugar escuro, feio, tétrico, com energias muito negativas.

Assim que começou a caminhar por aquele vale sombrio, viu três espíritos vestidos com capa preta caminhando em sua direção. Assim que chegaram, o homem perguntou:

– Que lugar é esse?

– Aqui é o que vocês espíritas chamam de umbral – disse um dos espíritos. O homem ficou chocado com aquela informação. Mal podia acreditar que estava no umbral. Considerou que talvez estivesse ali para participar de alguma atividade socorrista aos espíritos sofredores. O espírito negativo, que lia seus pensamentos, respondeu que não. Ele estava ali porque o umbral era a zona cósmica que mais guardava sintonia com suas energias.

– Mas isso é impossível!!! – disse o espírita em desespero. – Não posso estar no Umbral. Deve haver algum erro… Em primeiro lugar eu sou espírita, faço parte dessa religião maravilhosa que é considerada o consolador prometido por Jesus. Realizo também projetos sociais de doação de sopa aos pobres. Ministro o passo magnético duas vezes por semana a uma multidão de pessoas lá no centro. Também ajudo financeiramente instituições de caridade muito necessitadas, além de dar palestras no centro para os iniciantes no Espiritismo. Definitivamente há algo errado…

Não há nenhum erro – disse o espírito das sombras – Em seu atual estágio de evolução, você tem que ficar aqui mesmo. É verdade que você é espírita e faz parte desta doutrina consoladora, mas intimamente você julgava pessoas de outras religiões inferiores por não serem espíritas. Sim, você realizava projetos sociais dando sopa aos pobres, mas em seus pensamentos sentia-se o máximo praticando a caridade e julgava que os pobres não eram tão evoluídos por estarem amargando a pobreza, quando na verdade muitos deles eram mais puros que você. Sim, você ministrava o passe, mas considerava que seu passe era mais “poderoso” e mais curador do que o passe de outros passistas. Sim, você ajudava financeiramente instituições de caridade, mas dentro de ti sempre dava o dinheiro esperando receber algo em troca e sentindo-se alguém muito “caridoso”. E finalmente… Sim, você dava palestras aos iniciantes na doutrina, mas acreditava ter mais conhecimento que eles e se colocava numa posição de destaque e vaidade intelectual. Tudo isso suscitando uma das maiores chagas da humanidade, o “orgulho” e a “vaidade”.

O homem ficou impressionado com as revelações daquele espírito. De fato, revendo suas atitudes e sua perspectiva, intimamente havia quase sempre um sentimento de superioridade, de orgulho em relação aos outros, diante de tudo o que foi feito.

O espírita então olhou para dentro de si e começou a se arrepender de tudo aquilo, reconhecendo seu erro e sentindo-se mais humilde. Nesse momento, ele sentiu uma luz brilhando dentro dele e começou a se elevar. Ao perceber que estava se elevando e deixando o umbral, avistou outros espíritos ainda presos à condição umbralina e novamente lhe veio um orgulho e uma sensação de superioridade em relação aos mesmos. Após sentir isso, caiu novamente no umbral, e a queda dessa vez foi ainda mais dolorosa. Um dos espíritos trevosos disse: – Você caiu novamente porque, no momento em que se elevava, começou a sentir uma certa superioridade em relação aos espíritos que aqui estavam, suscitando mais uma vez uma condição de orgulho. Além disso, “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido.” (Lucas 12:48).

O homem ficou muito triste com tudo aquilo. Entrou dentro de si mesmo e com toda a sinceridade pensou: Sim, é isso mesmo. Eu fui uma pessoa arrogante por ser espírita e por tudo o que eu fazia. Esse orgulho neutralizou todo o mérito de minhas ações. Mas tudo bem, eu mereço estar aqui no umbral. Vou ficar por aqui mesmo, quem sabe eu aprendo alguma coisa. Não me importo mais comigo e entrego minha vida a Deus… Como disse Jesus, “Que seja feita a vontade de Deus e não a minha”.

O homem caiu no chão e apenas se entregou a Deus com fé. Nesse momento, não tinha mais nenhum sentimento de auto importância. Fechou os olhos e deixou tudo fluir…

Neste momento, seu corpo começou a se tornar um corpo de luz e, sem nem perceber, começou a se elevar novamente. Assim que chegou a uma zona mais elevada, abriu os olhos e, para sua surpresa, havia se libertado do umbral. Desta vez, nem percebeu que estava se elevando e se libertando.

Um dos espíritos trevosos estava esperando por ele nesse plano mais elevado. Tirou a capa preta e uma luz maravilhosa começou a brilhar. O espírita percebeu que este espírito não era negativo, mas um espírito de luz que o estava ajudando desde o início. O espírito disse: – Tua renúncia de ti mesmo no último momento te salvou do umbral. Que tudo isso sirva de lição para você, meu filho. Toda essa experiência que você passou serve para os membros de qualquer religião. E não se esqueça jamais do que disse Jesus: “Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita.” (Mateus 6:3)

 

quarta-feira, 24 de julho de 2024

 



"Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel"

(Isaías 41:10).

 

No contexto espírita, a resiliência é vista como uma qualidade espiritual essencial, mas não deve ser confundida com submissão. A Doutrina Espírita ensina que a resiliência é a capacidade de enfrentar desafios, adversidades e sofrimentos com equilíbrio, fé e amor, mantendo a serenidade e a confiança na justiça divina.

Ser resiliente não significa simplesmente aceitar passivamente todas as circunstâncias da vida, mas sim encará-las com coragem e determinação, buscando aprender e evoluir com cada experiência. Os ensinamentos espíritas ressaltam a importância de agir com firmeza diante das dificuldades, buscando superá-las com sabedoria e perseverança, sem perder de vista os princípios de amor, caridade e fraternidade.

Ao mesmo tempo, a submissão implica em se render de forma resignada diante das adversidades, sem tentar buscar soluções ou agir para mudar as circunstâncias. No contexto espírita, a submissão passiva não é vista como uma atitude condizente com o processo de evolução espiritual, pois pode levar à estagnação e ao conformismo.

Portanto, ser resiliente no contexto espírita é ser forte e flexível ao mesmo tempo, enfrentando os desafios da vida com confiança na Justiça Divina e na capacidade de superação do espírito. É compreender que as dificuldades fazem parte do processo de crescimento e aprendizado, e que é possível transformar o sofrimento em oportunidade de evolução espiritual, sempre guiados pela luz da fé e do amor.


                                                                                        Por Letra espírita

 

segunda-feira, 27 de maio de 2024

 

Os Trabalhadores da Última Hora




Por: Janaína Magalhães

O Evangelho Segundo o Espiritismo nos traz em seu capítulo XX a Parábola de Jesus sobre os Trabalhadores da Última Hora, ou Parábola da Vinha, a qual transcreve-se abaixo para uma análise posterior.

O Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu de madru­gada, a fim de assalariar trabalhadores para a sua vinha. Tendo conven­cionado com os trabalhadores que pagaria um denário a cada um por dia, mandou-os para a vinha. Saiu de novo à terceira hora do dia e, vendo outros que se conservavam na praça sem fazer coisa alguma, disse-lhes: “Ide tam­bém vós outros para a minha vinha e vos pagarei o que for razoável.” Eles foram. Saiu novamente à hora sexta e à hora nona do dia e fez o mesmo. Saindo mais uma vez à hora undécima, encontrou ainda outros que estavam desocupados, aos quais disse: “Por que permaneceis aí o dia inteiro sem trabalhar?” — “É”, disseram eles, “que ninguém nos assalariou.” — Ele então lhes disse: “Ide vós também para a minha vinha.”

Ao cair da tarde disse o dono da vinha àquele que cuidava dos seus negócios: “Chama os trabalhadores e paga-lhes, começando pelos últimos e indo até os primeiros.” — Aproximando-se então os que só à undécima hora haviam chegado, receberam um denário cada um. Vindo a seu turno os que tinham sido encontrados em primeiro lugar, julgaram que iam receber mais; porém, receberam apenas um denário cada um. Recebendo-o, queixaram-se ao pai de família, dizendo: “Estes últimos trabalharam apenas uma hora e lhes dás tanto quanto a nós que suportamos o peso do dia e do calor.”

Mas, respondendo, disse o dono da vinha a um deles: “Meu amigo, não te causo dano algum; não convencionaste comigo receber um denário pelo teu dia? Toma o que te pertence e vai-te; apraz-me a mim dar a este último tanto quanto a ti. Não me é então lícito fazer o que quero? Tens mau olho, por que sou bom?” Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos, porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos. (Mateus, 20:1 a 16).

Interpretando esta Parábola de Jesus conforme os ensinamentos espíritas, o pai de família é Deus; a vinha somos nós, a Humanidade terrena; e o trabalho, a aquisição de virtudes que devem enobrecer nossas almas.

Para ir evoluindo tanto moral quanto intelectualmente e ir adquirindo estas virtudes, uns Espíritos precisam de mais tempo e outros de menos, conforme os caminhos bem ou mal escolhidos. O prêmio, portanto, é a alegria, o gozo espiritual decorrente de mais um degrau alcançado na escada evolutiva até chegar à plenitude espiritual (Espíritos Puros). (Calligaris, 2011, P. 31-32)

Outra importante conclusão desta Parábola é a confirmação da doutrina reencarnacionista. Os trabalhadores da primeira hora são os profetas, Moisés e todos os iniciadores que marcaram as etapas do progresso, as quais continuaram a ser assinaladas através dos séculos pelos apóstolos, pelos mártires, pelos Pais da Igreja, pelos sábios, pelos filósofos e, finalmente, pelos Espíritas. Estes que por último vieram, foram anunciados e preditos desde a aurora do advento do Messias e receberão a mesma recompensa. O belo dogma da encarnação eterniza e precisa a filiação espiritual. Chamado a prestar contas do seu mandato terreno, o Espírito se apercebe da continuidade da tarefa interrompida, mas sempre retomada (KARDEC, 2023, p.241, capítulo XX, item 3).

A história nos lembra de que todos somos convidados a trabalhar no Reino de Deus e, independentemente do momento em que aceitamos o convite, somos recompensados.

Isto é, Deus sempre nos chama para o trabalho edificante e à prática do bem, mas nem sempre respondemos com prontidão e com boa vontade às tarefas que nos são confiadas.

Nossa meta é a evolução espiritual e, enquanto alguns estão sempre dispostos a alcançá-la, outros postergam e demoram demais para despertar para seu trabalho de purificação espiritual.

E, mesmo aqueles que levam mais tempo, ainda assim são agraciados na mesma intensidade, ou seja, desfrutam igualmente dos benefícios da plenitude do Espírito como os primeiros que atingiram o grau de adiantamento superior.

Isso quer dizer, que o trabalhador da última hora é tão merecedor quanto aqueles que o antecederam.

Desde que ele, na verdade, realize todas as tarefas que lhe cabem com muita dedicação e sacrifício. (Conteúdo Espírita – On-line)

No item 4 de O Evangelho Segundo o Espiritismo (p. 241), Allan Kardec nos fala sobre a missão dos Espíritas. Os Espíritas compreendem o amor de Deus como um impulso para a evolução, e sabem que o Espírito se eleva quando se esforça para viver sua vida baseada nos ensinamentos de Jesus.

Por isso, no final deste item, como resposta à pergunta: Se entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?

“Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-los-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de sua lei; os que seguem sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição. – Erasto, anjo da guarda do médium (Paris, 1863)”.

Neste momento de transição pelo qual passa o planeta Terra, os Espíritos que tiverem colaborado para que o bem prevaleça serão agraciados pelo cêntuplo do que tiverem esperado.

Deus procede, neste momento, ao censo de seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores animosos, pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que Ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da regeneração pelo Espiritismo. Cumprir-se-ão estas palavras: “Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus” (KARDEC, 2023, p.243-244, capítulo XX, item 3).

 

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Referências:

1- CALLIGARIS, Rodolfo. Parábolas Evangélicas – 11.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011.

2- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1. ed. Campos dos Goytacazes-RJ: Editora Letra Espírita, 2023.

3- Trabalhadores da última hora: A Parábola da Vinha [visão espírita] – Retirado do site: Conteúdo Espírita - Disponível em: https://conteudoespirita.com/trabalhadores-da-ultima-hora/ - Acesso em 24 de janeiro de 2024



terça-feira, 26 de março de 2024

 




Por: Leda Maria Flaborea 

 

    O trabalho de renovação das disposições íntimas vai exigir, de todo aquele que se proponha executá-lo, perseverança e determinação. Perseverança, por causa da necessidade da repetição contínua e sistemática na correção do desvio feito nos caminhos da existência, e determinação, para que não se abandone o comprometimento com essa nova atitude. 

As ideias fantasiosas que temos sobre renovação deixam-nos manietados a outros erros, e iludidos na certeza de que a estamos realizando. Quase sempre, por desconhecimento, apenas trocamos o nome, o rótulo de antigos enganos, que insistimos em manter – nos apraz tal situação -, distorcendo o verdadeiro significado de tal fato. Esse engano parece-nos, está ligado à noção equivocada de que estamos, realmente, comprometidos com a mudança e que a estamos realizando. Mas, a verdade é que se observarmos nossa conduta, poderemos perceber, muitas vezes, que insistimos em cometer os mesmos erros, fazendo as mesmas escolhas e guardando a certeza de que já havíamos superado essa fase. Todavia, a consciência dessa repetência permitirá que nos coloquemos em alerta, porque nos permitirá saber que, ainda, estamos no início da caminhada e distantes dessa superação.

As situações, nas quais somos chamados a dar testemunho daquilo que já aprendemos – e quase sempre supomos que já o fizemos – constituem-se em excelentes vitrines para essas observações. São armadilhas que surgem para que nos testemos, para que tenhamos um parâmetro da nossa evolução, para que possamos medir o quanto, ainda, a paciência, a tolerância com as diferenças, o entendimento fraterno a quem nos agride, a capacidade de perdoar e esquecer e tantos outros, que imaginávamos já dominar, estão longe do ideal da prática amorosa que Jesus nos ensinou.

São decepções que infligimos a nós mesmos e que sacodem a nossa acomodação, no pouco que fizemos, mas que supomos ser muito. É importante lembrar aqui que qualquer avanço na senda do progresso é louvável e, às vezes, requer muito esforço de quem o executa. O que não pode ocorrer é a estagnação desse movimento renovador, com a justificativa de que muito já foi feito. Isso nos desequilibra e nos adoece física e emocionalmente, permitindo que, inúmeras vezes, sejamos alvos fáceis de aproximação de outras mentes em desalinho, sejam elas encarnadas ou desencarnadas.

Por essa razão, a superação de sentimentos inferiores, sob o ponto de vista de Jesus, como os de revide, vingança, vaidade, personalismo, por exemplo – expressões do egoísmo na vida de relação –, é de vital importância para a recuperação e manutenção do equilíbrio e da harmonia no âmbito da vida íntima. É essa condição que nos permitirá não sermos feridos pelas correntes aflitivas e conflitantes que nos cercam, proporcionando um outro olhar sobre essas armadilhas, um olhar com objetividade, dando a cada situação o justo peso de importância. 

Para que isso ocorra, faz-se mister buscar conhecer nossos sentimentos – raiz de nossas escolhas -, dimensioná-los, estabelecendo prioridades para serem trabalhados, com foco nas suas transformações, partindo do mais simples e, portanto, do mais fácil – aquele mais imediato, mais próximo, que está mais claro para nós – para o mais complexo e mais difícil.

O mais importante nesse processo, em última análise, é ter a coragem de identificar esses sentimentos malsãos, iniciar a tarefa de renovação e, depois, permanecer nesse caminho. Passeando entre a luz e a sombra, a razão e a emoção, nunca acertaremos a rota se não nos comprometermos com a mudança e perseverar nela, mesmo que se tenha de refazer os passos mil vezes.

Muitos de nós creem que somente a fé em Deus seja suficiente para que essas mudanças ocorram. Entretanto, a proposta de renovação, que Jesus nos convida a realizar, transcende a simples fé divina. Ela vai além e toca na essência do Espírito, na vontade genuína de realizá-la. Daí, a presença dessas duas forças transformadoras em nós: a fé humana e a fé divina, porque, ainda que se aceite a soberana presença de Deus em nossa vida; ainda que a fé nos leve a adorá-lo em Espírito e Verdade; ainda que a Natureza O revele através das belezas que nos cercam, senão O sentirmos e mostrarmos ao mundo, através de nossas atitudes, nada terá sentido. Aceitar a Sua presença e não vê-lo no próximo é cegueira mental; adorá-lo em Espírito e Verdade e só colocá-lo em altares terrenos é diminuir-Lhe a majestade; e vê-lo revelado em Suas obras e não entendê-lo é olhar-se no espelho e não reconhecê-lo em si mesmo.

É na busca dessa identidade com o Criador que reside nossa luta renovadora. “O Pai e eu somos um só”, disse Jesus, mostrando que somente pela superação de nós mesmos e da materialidade na qual insistimos em permanecer, seremos livres e nos reconheceremos, finalmente, como filhos de Deus.


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

                                                             

                                    

                                                                                                        Por: Janaína Magalhães

459 - Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?

Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem

(KARDEC, 2022, p. 195)

Podemos depreender da resposta acima que a influenciação espiritual em nossas vidas é muito grande e que estamos em constante intercâmbio por meio do pensamento com o Mundo Espiritual. Através da mente, o Espírito encarnado familiariza-se com ideias que lhe são afins, positivas ou negativas conforme o estágio vibratório em que esteja situado.

Se estes indivíduos são portadores de aspirações nobilitantes, onde se fixem, haurem maior impulso para o crescimento. Permanecendo na construção do bem, dificilmente assimilam as induções perversas ou criminosas procedentes dos estagiários das regiões inferiores. (FRANCO, 2019, P. 18)

Se interessados, porém, nas colocações da vulgaridade ou do prazer, da impiedade ou da preguiça, do vício ou da desordem, recebem maior influxo de ondas mentais equivalentes, resvalando para o despenhadeiro da emoção aturdida, do desequilíbrio... (FRANCO, 2019, P. 18)

A obsessão simples atinge a maioria dos encarnados tendo em vista ser um natural intercurso psíquico existente em todas as partes do Universo.

 De acordo com “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. XXVIII, item 81, “a obsessão é a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral sem perceptíveis sinais exteriores até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais”.

 Durante o sono físico, cada ser fixa-se nas ideias mentais que lhe são próprias vibrando na sintonia da ambição desmedida, dos prazeres desenfreados, dos medos indiscriminados, nas culpas paralisantes, encontrando-se com seres que se caracterizam pelas mesmas aspirações e condições fazendo com que essas cargas emocionais se intensifiquem. Ao despertarem para o novo dia, muitas vezes o fazem trazendo a mente atribulada pelos resquícios da noite mal dormida e dos encontros menos felizes prejudicando a execução das tarefas e o enfrentamento das atividades diárias.

 Surgem como efeito natural, as síndromes da inquietação: as desconfianças, os estados de insegurança pessoal, as enfermidades de pequena monta, os insucessos em torno do obsidiado que soma as angústias, dando campo a incertezas, a mais ampla perturbação interior. (FRANCO, 2019, P. 19)

 A partir daí, o obsidiado se alimenta da psicosfera deletéria que vige em sua volta por não querer se esforçar em sair dela por meio de diversos recursos disponíveis como: ouvir as sugestões dos amigos espirituais que nunca nos abandonam, ler páginas edificantes, auxiliar o próximo, elevar a sintonia por meio da prece, dentre outros.

909 – Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações??

- Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem esforços! (KARDEC, 2022, p. 325).

Conforme a constituição temperamental, faz-se apático, tende à depressão, adentrando-se pela melancolia, em razão da mensagem telepática problemática e dos clichês mentais pessimistas que ressumam do arquivo da inconsciência. No sentido oposto, se é dotado de constituição nervosa excitada, torna-se agressivo, violento, em desarmonia de atitudes expondo a aparelhagem psíquica e os nervos a altas cargas de energias que danificam os sensores e condutores nervosos, com singulares prejuízos para a organização fisiopsíquica. (FRANCO, 2019, P. 20)

 Assim sendo, percebe-se pelo desequilíbrio no comportamento da criatura que ora tende à depressão ora à excitação, a instalação da doença causada pela obsessão.

 Não apenas por processos de desforço pessoal, em que os desafetos se buscam para produzirem-se males e cobranças injustificáveis, como por fatores de variada motivação, assimilam-se ideias e pensamentos pela simples sintonia de onda própria em que se situam as mentes. (FRANCO, 2019, P. 16,17)

 Ou seja, captamos as sugestões vindas da esfera espiritual com as quais sintonizamos. Por falta de vigilância ou vontade, nos atemos às vibrações negativas que nos chegam aceitando ou atraindo a sugestão perturbadora que vitaliza as tendências que já possuímos e relutamos em combater.

 Por estarmos há milênios jungidos ao mal e aos hábitos perniciosos, as ideias negativas são mais fáceis de serem assimiladas e aceitas encontrando ressonância com o pensamento do paciente que não reluta e torna-se presa do monoideísmo que pode produzir quadros de fascinação e subjugação torturantes e de difícil reversibilidade.

 

Obsessão por Fascinação

Com o processo de obsessão instalado, o obsidiado começa não apenas a compartilhar suas ideias com o obsessor, como também suas atitudes e formas de ser. Neste momento a pessoa perde a noção do ridículo e passa a agir guiada pelas inspirações vindas do obsessor incorporando-as como diretrizes que se apresentam ilógicas aos outros mas que para ele estão em perfeita coerência e dentro da normalidade.

 Por conhecerem o caráter e as imperfeições morais do ser que perturbam, os Espíritos querem insuflá-lo em seu orgulho para que se distancie das pessoas ou recursos que possam de alguma forma ajudá-lo, fazendo-lhe crer que são seres em missões especiais e tornando joguetes de fácil manipulação desses Espíritos.

 Lembremos aqui que em toda obsessão ou sofrimento é levado em conta o merecimento da criatura e a disposição de que esta se reveste na tentativa de se livrar de tal mal. Por mais injusto que possa parecer, no sofrimento do indivíduo, existe sempre a lei de ação e reação no cerne de todo o problema, juntamente com resquícios de orgulho, egoísmo e personalismo exacerbado que são brechas para a aproximação do antagonista espiritual.

 

Obsessão por Subjugação

 No painel das obsessões, à medida que se agrava o quadro da interferência, a vontade do hospedeiro perde os contatos de comando pessoal, na razão direta em que o invasor assume a governança. Assim, a subjugação pode ser física, psíquica e simultaneamente fisiopsíquica. (FRANCO, 2019, P. 23)

No primeiro caso, não há perda da lucidez intelectual e dá-se diretamente sobre os centros motores podendo causar enfermidades orgânicas, advindas da contaminação por vírus e bactérias, ou mesmo sob a vigorosa ação fluídica dilacerarem-se os tecidos fisiológicos ou perturbar-se o metabolismo geral, causando enormes prejuízos físicos...

 No segundo caso, o paciente chega a perder totalmente a lucidez pelo estado de passividade e dominação mental em que se encontra perdendo temporária ou definitivamente a área da consciência durante sua atual encarnação.

 O espírito encarnado movimenta-se num labirinto que o atemoriza, algemado a um adversário que lhe é impenitente, maltratando-o, aterrando-o com ameaças cruéis, em parasitose firme na desconcertada casa mental.

 Por fim, assenhoreia-se, simultaneamente dos centros do comando motor e domina fisicamente a vítima, que lhe fica inerte, subjugada, cometendo atrocidades sem nome.

Não podemos deixar de afirmar que juntamente com o paciente estão incursas na Lei as pessoas que constituem seu grupo familiar e social, aí situados por necessidade evolutiva e de resgate para todos. Reunidos ou religados pelo parentesco sanguíneo ou através das conjunturas da afetividade, da afinidade, formam os grupos em que são alcançados pelos processos reeducativos, no tentame do progresso. (FRANCO, 2019, P. 24)

 Necessário considerar que não nos referimos aqui, àqueles seres que são portadores de patogenias mais imperiosas em razão de enfermidades graves, da hereditariedade, de distúrbios glandulares e orgânicos, de traumas cranianos e de sequelas de inúmeras doenças outras...

 Queremos deter-nos nas psicogêneses espirituais, sejam as de natureza emocional, pelas aptidões e impulsos que procedem das reencarnações transatas, de que os enfermos não se liberam; sejam pelo impositivo das obsessões infelizes, produzidas por encarnados ou por Espíritos que já se despiram da indumentária carnal, permanecendo, no entanto, nos propósitos inferiores a que se aferram...

 Dando gênese a enfermidades várias, inicialmente imaginárias, que recebe por via telepática, pode transformar-se em males orgânicos de consequências insuspeitadas, ao talante do agente perseguidor que induz a vítima que o hospeda a situações lamentáveis. (FRANCO, 2019, P. 8)

 

Recursos terapêuticos como tratamento à obsessão

· Tratar o Espírito desencarnado como um enfermo que necessita de ajuda e não como um inimigo ferrenho, auxiliando-o na sua renovação íntima mesmo não concordando com suas atitudes e buscando à luz do Evangelho demovê-lo da ação no mal. (FRANCO, 2019, P. 25)

· Paralelamente, estimular junto ao ser encarnado que sofre a injunção obsessora o hábito da oração e da leitura edificante, ao mesmo tempo em que trabalha seu caráter tornando-o maleável ao bem e refratário ao vício.

· Aplicação dos recursos fluídicos, seja através do passe ou da água magnetizada, da ação intercessória com que se vitalizam os núcleos geradores de forças, estimulantes da saúde com o poder de desconectarem a ligação entre obsessor e obsidiado e fazer com que possam se reabilitar perante a Consciência Cósmica pela aplicação de valores e serviços dignificadores. (FRANCO, 2019, P. 26)

Referências:

1- FRANCO, Divaldo. Nas fronteiras da loucura. Ditado pelo espírito Manoel Philomeno de Miranda. 16 ed. Salvador: LEAL, 2019)

2- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.

3 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes: Letra Espírita, 2022.