quinta-feira, 26 de maio de 2016

ENDEREÇO CERTO


Há dois dias, Lucinha conservava sob sua guarda, para adoção por terceiros, encantadora menina recém-nascida. Três casais que ainda ignoravam sua existência aguardavam por aquela oportunidade, com a ansiedade de quem, após infrutíferos esforços no propósito de ter seus próprios filhos, decidiu acolher filhos alheios. Porem havia um problema: Lucinha não se inclinava por nenhum deles.
Em qualquer daqueles lares, a criança estaria bem. Eram famílias bem constituídas, gente boa, excelente condição financeira, ambiente saudável... Por que, então, a dúvida? Impossível definir. Apenas sentia assim...
O tempo corria célere. Imperioso definir rápido ou teria problemas em sua própria casa, porquanto uma de suas filhas tomara-se de amores pela menina. Pensara em ficar com ela. Adoraria fazê-lo. Mais forte, entretanto, era o sentimento de que era outro o destino daquela criança.
À noite, ao se deitar, alma em conflito, orou pedindo ajuda a Deus. Estava consciente da enorme responsabilidade que tinha em suas mãos. Queria acertar! Para tanto, empenhava-se em apurar a sensibilidade! Era preciso estender antenas espirituais, captar orientação segura!...
Brando sono pôs fim às suas angústias. Em sonho muito nítido, viu-se entregando a menina a Maitê, sua prima, que a recebia emocionada e feliz.
Despertou com a lembrança plena do inesperado contato, guardando a convicção de que o Céu atendera suas rogativas. Mas, por que a prima? Ela e o marido estavam ainda traumatizados com a morte de Pedrinho, o filho mais novo que falecera a alguns meses, vitimado por leucemia no verdor de seus cinco anos. Não cogitavam de uma adoção...
Bem, o jeito era verificar como estavam. Tomou o telefone e fez a ligação.
– Oi, Maitê, tudo bem?
– Muito bem, Lucinha! Bem mesmo, graças a Deus!
– Você está animada! Fico feliz!
– É verdade, estou animadíssima, como não me sentia há anos!
– Ganhou na Loteria?
– Vou ganhar, mas é algo mil vezes mais importante!...
– Quem bom! Posso saber?
– Claro prima! Há várias noites, venho sonhando com o Pedrinho. Ele se aproxima de mim e me entrega um bebê, explicando: "Mamãe, trouxe-lhe uma irmãzinha para você cuidar".
Maitê estabelece pequena pausa, contendo a emoção, e conclui:
— Como sabe Lucinha, não posso mais ter filhos, mas, em face dos sonhos, combinei com o João: vamos adotar uma menina. Daí a minha alegria. Sinto que vai "pintar" uma criança em minha vida!
Pausa mais longa interrompe o diálogo.
— Oi, Lucinha, ainda está aí?
Uma voz trêmula, embargada pela emoção, responde do outro lado:
— Sim, Maitê, estou aqui e tenho uma surpresa para você: a criança já "pintou"! Sua filhinha está aqui comigo!
***
A adoção de filhos não obedece a circunstâncias fortuitas. Há uma ampla mobilização da Espiritualidade no sentido de encaminhar órfãos aos lares a que se destinam.
Ficaríamos surpresos se tivéssemos noção plena do trabalho desenvolvido pelos mentores espirituais nesse sentido. Quando encontram instrumentos dóceis na Terra, eles realizam prodígios para colocar filhos que precisam de pais no endereço certo de pais que precisam de filhos.

Richard Simonetti


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