sábado, 20 de fevereiro de 2016

O QUE É O UMBRAL


A ideia do Umbral sempre provocou fascínio entre os espíritas e não espíritas. Desde que o médium Francisco Cândido Xavier revelou pela primeira vez a existência do Umbral na obra Nosso Lar, em 1944, muitas pessoas vêm procurando mais e mais informações a respeito. Umbral pode ser definido como uma zona ou região cósmica onde se encontram, por afinidade e sintonia, espíritos que estão presos aos resultados de suas próprias ações, emoções e pensamentos negativos. É onde se reúnem desencarnados que não conseguem se libertar de muitas emoções, como mágoa, culpa ressentimento, ódio, revolta, ambição, apego, angústia, dor, luto, decepção, frustrações, etc.
É preciso deixar claro que o umbral não é uma região situada no espaço, mas sim uma zona mental, de consciência, que é criada e construída psíquica e emocionalmente pelos espíritos que nele se encontram. É um plano extremamente negativo, com variados graus de densidade, que vão do mais denso ao menos denso. Não se trata de uma área geográfica, de algo delimitado espacialmente. Trata-se, antes de tudo, de criações mentais coletivas de grande desarmonia.
Para o Umbral vão espíritos cuja frequência é muito baixa; espíritos que cometeram erros terríveis em vida ou que se desgarraram em paixões, vícios, sexo, drogas, perversões, maldades e toda sorte de qualidades inferiores, como orgulho, egoísmo, vaidade, medo, tristeza profunda, dentre outros. Os espíritos vão para o chamado umbral não porque alguém os enviou para esta zona, mas por que com sua sintonia, com a ressonância de seus pensamentos, emoções e intenções, eles são automaticamente atraídos para as camadas de consciência de suas simpatias e inclinações.
Diz o espírito André Luiz em Psicografia de Chico Xavier “O plano está repleto de desencarnados e de formas-pensamentos dos encarnados, porque, em verdade, todo espírito, esteja onde estiver, é um núcleo irradiante de forças que criam, transformam ou destroem exteriorizadas em vibrações que a ciência terrestre presentemente não pode compreender. Quem pensa, está fazendo alguma coisa alhures. E é pelo pensamento que os homens encontram no umbral os companheiros que afinam com as tendências de cada um. Toda alma é um imã poderoso (…)” Aqui o espírito André Luiz deixa claro que o pensamento, ou a consciência do espírito se irradia criando o ambiente que ele vai viver, e esse cenário externo, projetado por ele mesmo, são quase sempre sombrio, degradante, odioso e sofrido.
Dessa forma, compreendemos como, após a morte, os pensamentos têm a capacidade de criar formas externas, que se assemelham a coisas físicas, porém de matéria etérea. Essas são as formas-pensamentos, muito conhecidas no esoterismo. Como disse Edgar Cayce: “Pensamentos são coisas”. Isso significa que nossas criações mentais coletivas podem gerar espaços subjetivos onde futuramente estaremos vivendo após a morte, quando todos os laços físicos forem rompidos e sobrar apenas à realidade de nossas criações mentais.
No entanto, é preciso esclarecer que os espíritos permanecem no Umbral apenas temporariamente. Na concepção do inferno cristão, dogma sustentado até hoje pela igreja católica e pelas igrejas protestantes, as almas que vão para a zona infernal ficam lá para sempre, por toda a eternidade, sem possibilidade de redenção, arrependimento, etc. Para muitos, essa ideia é contrária à misericórdia divina, que sempre dá ou deveria dar novas oportunidades aos seus filhos. Por isso, na visão espírita, o umbral é uma zona de consciência onde os espíritos não estacionam para sempre, mas apenas por um determinado período. Esse tempo não é o mesmo para todos os espíritos. Ele varia de espírito para espírito, dependendo dos erros que cometeu, dos vícios que ele mergulhou, do quanto agrediu, matou, estuprou, ofendeu ou prejudicou de diversas formas seus semelhantes. Por outro lado, no Umbral também existem espíritos presos à mágoa, raiva, angústia, depressão, etc. Essas almas não conseguem se desprender dessas tendências negativas, que criam um verdadeiro “inferno” em suas consciências.
Vamos dar alguns exemplos para que isso fique mais claro. Um espírito pode ficar um determinado tempo no umbral até se desprender da mágoa que sente de uma pessoa que o traiu em vida. Essa mágoa pode baixar sua vibração e leva-lo a se sintonizar com essa região cósmica de consciência para onde vão espíritos que também sentem mágoa de seus desafetos. Há muitos espíritos que vão ao umbral porque não conseguem perdoar aqueles que lhes fizeram mal. Em outro caso, uma pessoa pode ir ao umbral pela raiva que sente de alguém que a matou, que “tirou” a sua vida. Mal essa alma sabe que sua vida não foi tirada, mas sim que ela continua viva em outro plano de existência. Algumas pessoas podem ir ao umbral pelo abuso que fazem de entorpecentes de diversos tipos. André Luiz acabou indo ao Umbral pelo abuso que fazia do cigarro, que foi considerado um “suicídio inconsciente” pela espiritualidade superior. Além disso, ele era um médico arrogante e muito voltado para si mesmo, o que fez com que sintonizasse com a zona umbralina correspondente a esse tipo de vibração.
Agora vamos esclarecer um ponto importante. Como já dissemos, o umbral, ao contrário do inferno católico, é um “local” apenas de passagem. Mas poucas pessoas sabem que o umbral tem uma característica muito importante: ele é uma zona de purgação. Essa ideia pode surpreender alguns, mas quando meditamos em sua essência, reconhecemos que ela faz todo sentido. Isso significa que os espíritos que se sintonizam com o umbral permanecem nele até purgar de dentro de si toda a negatividade que adquiriram no mundo. Eles precisam se purificar, ou seja, realizar essa limpeza em suas energias, para que possam ascender aos planos mais elevados da espiritualidade. Caso os espíritos não consigam se purificar no umbral, eles devem lá perdurar até conseguirem a libertação de todas as mazelas humanas que impedem sua entrada nos portões dos planos sutis.
Por exemplo, quando sentimos mágoa de uma pessoa que nos fez mal, essa mágoa permanece dentro de nós, e fica constantemente voltando ao nosso pensamento, às vezes de forma obsessiva, até que consigamos nos livrar dela e perdoar. O mesmo ocorre no umbral: um espírito que foi prejudicado por outro e sente muita raiva, deverá permanecer no umbral sentindo essa raiva até conseguir se libertar dela e perdoar, ou ao menos diminuir o grau desse sentimento. Ao contrário da Terra, onde temos um corpo físico que abafa nossa natureza espiritual, os espíritos são livres e manifestam exatamente o que são de forma muito mais ativa e intensa.
Por esse motivo, se um espírito desencarna com raiva de alguém, essa raiva pode permanecer com ele e será muito mais forte comparado ao que era durante sua estada na Terra. Ele sentirá cada aspecto do seu ser fervilhar de raiva daquele que o prejudicou, e essa raiva queimará dentro dele até que ele consiga se desprender dela. O processo funciona mais ou menos assim: o espírito vai repetindo suas emoções, ecoando seus pensamentos de ódio, mágoa, repulsa, culpa etc. até, finalmente, conseguir a libertação deles. Ele vai repetindo as emoções e as situações que o prendem até esgota-las e se livrar delas. Assim que ele se desapega de tudo, ele pode ascender ao plano espiritual mais elevado e ir a uma região cósmica que corresponde ao adiantamento de sua alma até a vida atual.
Dessa forma, fica claro que o Umbral, antes de tudo, é um local de purgação, onde são purificadas as nossas imperfeições humanas, para que o espírito que somos possa se manifestar mais livremente e ascender aos planos superiores. É como se o espírito fosse à água e as impurezas do nosso ser uma lama misturada a essa água. Quanto mais impurezas precisamos retirar da água, maior a previsão de tempo que ficaremos no umbral. A água precisa se tornar o mais pura possível para que possa desaguar no mar espiritual de pureza. Dessa forma, podemos dizer que o Umbral é uma espécie de filtro cósmico, onde se deve despojar toda a lama dos nossos apegos, ódios, vícios, erros, culpa, sofrimento, etc. O Umbral é, sem engano, apenas um local de passagem, uma antessala que nos conduz aos planos celestes.
Algumas pessoas podem perguntar: mas o que eu posso fazer para evitar minha ida ao umbral? A resposta a essa pergunta é bem simples e até óbvia: cada pessoa deve resolver, durante a sua vida, todas as suas pendências humanas. Isso significa que, aquele que tem raiva de alguém, deve perdoar e se libertar dessa raiva; aquele que se sente culpado por um erro que cometeu, perdoe-se e se liberte da culpa. Aquele que tem rixas com seus familiares e nutre sentimentos inferiores, resolva essas brigas, e transforme o ódio no amor. O plano divino nos concede, na Terra, a oportunidade desses resgates com nossos irmãos humanos. No caso do desencarne sem que certos assuntos estejam bem resolvidos, podemos ficar um período mais ou menos longo no umbral até que nossa purificação se complete. Portanto, qualquer briga conflito, raiva, mágoa, vício, apego, sofrimento, etc., deve ser resolvido ainda em vida, agora, nesse momento… É claro que nem toda briga nos levará ao umbral, mas apenas aquelas que nos marcaram mais profundamente e nos deixaram com sentimentos negativos mais profundos. No entanto, para que possamos fazer com tranquilidade nossa passagem ao plano espiritual, vamos tratar de resolver tudo o que nos prende à matéria e aos sentimentos inferiores da alma humana.
Há um ditado popular que diz: “Não deixe para amanha o que você pode fazer hoje”. Há também uma máxima espiritual que diz: “Não deixe para depois da morte o que você pode resolver durante sua vida”.


Hugo Lapa

Nenhum comentário:

Postar um comentário