segunda-feira, 5 de outubro de 2015

BATUÍRA



Nasceu Batuíra aos 19 de março de 1839, em Portugal, na freguesia de Águas Santas, hoje integrada no conselho de Maia. Filho de humildes camponeses, tendo apenas completado a instrução primária, veio, com cerca de 11 anos de idade, para o Brasil, aportando na Guanabara em 3 de Janeiro de 1850.
Durante três anos trabalhou no comércio da Corte. Daí passou para Campinas-SP, onde ficou por algum tempo, até que se transferiu definitivamente para a capital paulista, que, na ocasião, deveria possuir menos de 30.000 habitantes. Aí, nos primeiros anos, foi distribuidor do Correio Paulistano. Naquele tempo, não havia bancas de jornal nos lugares públicos. A entrega se fazia à tarde, de casa em casa, e tão somente aos assinantes.
Diligente, honesto e Espírito dócil, Batuíra, como entregador de jornais, ia formando amigos e admiradores em toda parte. Parece que foi neste período que aprendeu a arte tipográfica, certamente nas próprias oficinas do Correio Paulistano.
Batuíra, muito ativo, correndo daqui para acolá, foi apelidado "o batuíra", nome que o povo dava à narceja, ave pernalta, muito ligeira, de voo rápido, que frequentava os charcos na várzea formada, no atual Parque D. Pedro II, pelos transbordamentos do Rio Tamanduateí. O nome do rapazinho era Antônio Gonçalves da Silva, mas, de então em diante, tomou para si o apelido de Batuíra.
Dentro de pouco tempo, com as economias que reuniu, e naturalmente com o auxílio de pessoas amigas, montou um teatrinho nos fundos de uma taverna da Rua Cruz Preta. Naquela modesta casa de espetáculos, muitos amadores fizeram sua estreia, inclusive Batuíra.
Perseverando na sua faina, dedicou-se depois à fabricação de charutos. Assim, com bastante trabalho e economia, Batuíra fazia crescer suas modestas finanças, o que lhe permitiu esposar Brandina Maria de Jesus, de quem teve um filho, Joaquim Gonçalves Batuíra, que veio a falecer depois de homem feito e casado.
Audaz, tal como os grandes empreendedores, investiu seu dinheiro na compra de áreas desvalorizadas, iniciando a construção de pequenas casas para alugar, tornando-se assim um abastado proprietário, cujos haveres traduziam o fruto de muitos anos de trabalho árduo e honrado, unido a uma perseverança inquebrantável.
Na ocasião em que tudo parecia correr bem, falece, quase repentinamente, o filho único de sua segunda esposa, D. Maria das Dores Coutinho e Silva. Era uma criança de doze anos, por quem o casal se extremava em dedicação e carinho.
Este golpe feriu profundamente aquele lar, que só pode encontrar lenitivo para a dor na consoladora Doutrina dos Espíritos.
Tão grande foi à paz que o Espiritismo lhes infundiu, que Batuíra imediatamente pôs mãos à obra, no desejo ardente de que outros companheiros de labutas terrenas tivessem conhecimento daquela abençoada fonte de esperanças novas. E dentro daquele corpo baixo e de compleição robusta, um coração de ouro daria mais larga expansão aos seus nobres sentimentos de amor ao próximo.
No ano de 1889, Batuíra passou a ser, na cidade de São Paulo, o agente exclusivo do Reformador, função de que se encarregou até 1899 ou 1900.
No dia 6 de abril, de 1890, restabeleceu o Grupo Espírita Verdade e Luz, que havia muito se achava adormecido.
Adquiriu então uma pequena tipografia, destinada à divulgação e propagação do Espiritismo, editando a publicação quinzenal chamada Verdade e Luz, que atingiu, no ano de 1897, a marca de 15.000 exemplares.

Batuíra era também médium curador, sendo centenas as curas de caráter físico e espiritual que obtinha ministrando água fluidificada ou aplicando passes magnéticos.
Em virtude de todos esses fatos, o povo, o mais beneficiado por Batuíra, passou a denominá-lo médico dos pobres, cognome que igualmente aureolou o nome de Adolfo Bezerra de Menezes.
A ação benemérita de Batuíra não se circunscrevia, entretanto, a essas manifestações da caridade cristã. Foi muito mais além. Criou ele Grupos e Centros Espíritas em São Paulo, Minas Gerais, Estado do Rio, os quais animava e assistia; realizou conferências sobre diversos temas doutrinários, em inúmeras cidades de vários Estados, ocasião em que também visitava e curava irmãos sofredores; espalhou gratuitamente prospectos e folhetos de propaganda do Espiritismo, por ele próprio impressos, e distribuiu milhares de livros pelo interior do País.
Batuíra, unido a outros confrades ilustres, constituiu na capital paulista, em 24 de maio de 1908, a União Espírita do Estado de S. Paulo, que federaria todos os Centros e Grupos existentes no Estado.
Assim era o valoroso obreiro da Terceira Revelação, o incansável lidador que nunca se deixou abater pelas asperezas da jornada, tendo sido incontestavelmente um dos maiores propagandistas do Espiritismo no Brasil.
Carregando sobre os ombros muitas responsabilidades, não sentiu, tão preso se achava ao cumprimento dos seus deveres, que suas forças vitais se esgotavam rapidamente. Súbita enfermidade assalta-lhe o corpo e, desse modo, em poucos dias, transpõe as aduanas do além. Aos 22 de janeiro, de 1909, sexta-feira, cerca de uma hora da madrugada, faleceu Sr. Antônio Gonçalves da Silva Batuíra.


O Consolador
Revista Espírita

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