quinta-feira, 16 de abril de 2015

MATERIALISTAS



Muitas vezes nos perguntamos como pode haver materialistas quando, tendo eles passado pelo mundo espiritual, deveriam ter do mesmo a intuição; ora, é precisamente essa intuição que é recusada a alguns Espíritos que, conservando o orgulho, não se arrependeram das suas faltas. Para esses tais, a prova consiste na aquisição, durante a vida corporal e à custa do próprio raciocínio, da prova da existência de Deus e da vida futura que têm, por assim dizer, incessantemente sob os olhos. Muitas vezes, porém, a presunção de nada admitir, acima de si, os empolga e absorve. Assim, sofrem eles a pena até que, domado o orgulho, se rendem à evidência."
(O Céu e o Inferno, 2ª Parte, cap.V, 45. ed. FEB, p. 313-314).

Aos materialistas não faleis de revelação, nem de anjos, nem do paraíso: não vos compreenderiam. Colocai-vos, porém, no terreno em que eles se encontram e provai-lhes primeiramente que as leis da Fisiologia são impotentes para tudo explicar; o resto virá depois.
[17b - página 43 item 21]
Cada um é, seguramente, livre para crer no que lhe agrada, ou para não crer em nada, e não desculparíamos mais uma perseguição contra aquele que crê no nada depois da morte, que contra um cismático de uma religião qualquer. Combatendo o materialismo, nós atacamos não os indivíduos, mas uma doutrina que, se é inofensiva para a sociedade quando se encerra no foro íntimo da consciência de pessoas esclarecidas, é uma calamidade social, se ela se generaliza.
A crença de que tudo termina para o homem depois da morte, que toda solidariedade cessa com a vida, o conduz a considerar o sacrifício do bem-estar presente em proveito de outro como uma intrujice; daí a máxima: cada um por si durante a vida, uma vez que nada há além dela. A caridade, a fraternidade, a moral, não têm nenhuma base, nenhuma razão de ser. Por que se mortificar, se reprimir, se privar hoje quando, amanhã talvez, não existiremos mais? A negação do futuro, a simples dúvida sobre a vida futura, são os maiores estimulantes do egoísmo, fonte da maioria dos males da Humanidade. É preciso uma virtude bem grande para se deter sobre a inclinação do vício e do crime, sem outro freio além da força da vontade. O respeito humano pode conter o homem do mundo, mas não aquele para o qual o temor da opinião pública é nulo.
A crença na vida futura, mostrando a perpetuidade das relações entre os homens, estabelece entre eles uma solidariedade que não termina no túmulo; ela muda, assim, o curso das ideias. Se essa crença fosse apenas um espantalho, seria temporária; mas como sua realidade é um fato adquirido pela experiência, ela está no dever de a propagar e de combater a crença contrária, no interesse mesmo da ordem social. É isso o que faz o Espiritismo, e com sucesso, porque dá as provas, e porque, em definitivo, o homem prefere ter a certeza de viver feliz em um mundo melhor, como compensação às misérias deste mundo, do que crer estar morto para sempre. O pensamento de se ver aniquilado para sempre, de crer os filhos e os seres que nos são caros, perdidos sem retorno, sorri a um bem pequeno número, crede-me; por isso os ataques dirigidos contra o Espiritismo em nome da incredulidade têm tão pouco sucesso, e não o abalaram um instante.



Allan Kardec

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