terça-feira, 24 de setembro de 2013

SE KARDEC ESTIVESSE AQUI.


Como seria o relacionamento dele com o universo espírita?
Vamos questionar isto?
Com certeza alguns que não costumam questionar nada, como ele questionou, vão dizer que isto é coisa de polêmico, mas já que, felizmente, nem todos são possuidores de mentes atrofiadas vamos questionar, sim.
A quantidade de argumentos que tenho a falar sobre isto daria um livro, mas vou começar só com alguns tópicos nesta matéria:

Kardec e Robson Pinheiro

Pergunto, sobretudo a você que conhece a Revista Espírita e, por consequência deve conhecer bem o Kardec Total.
Como você acha que ele agiria em relação ao Robson Pinheiro?
Também fecharia as portas para ele, o alijaria do movimento espírita, jogaria o público contra ele só porque pesquisa, fala e escreve sobre a Umbanda, ou, pelo contrário, também se interessaria em pesquisar as manifestações mediúnicas no segmento umbandista?
Você sabia que na umbanda tem médiuns que, não sendo alcoólatras e não tomando bebida alcoólica nenhuma, quando em transe, algumas vezes chegam a tomar um litro de cachaça e após o transe voltam ao estado normal, sem qualquer efeito de embriaguez, sem cheiro de bebida, fisionomia normal, absolutamente lúcidos e até voltam para casa dirigindo?

Você sabia que um determinado médium de Umbanda, após um trabalho que ingeriu um litro de cachaça, ao voltar para casa, com a sua esposa ao volante do seu carro, fez questão de procurar onde tinha uma blitz policial para pedir que o policial o submetesse ao bafômetro, mesmo sem estar dirigindo, e que foi constatado que não havia vestígio nenhum de álcool no sangue dele?
Veja bem, gente: Um litro de cachaça, não é um copo!
Será que Allan Kardec, sabendo disto, diante de uma informação desta, deixar-se-ia levar pelo radicalismo extremista e não iria a campo pesquisar o fato?
Será que ele partiria também para considerar quem estuda e escreve sobre isto como demônio, ou talvez servo das trevas?
Você acha que Allan Kardec iria se recusar a ir a um terreiro de Umbanda a fim de conversar com aqueles espíritos que se identificam como Pretos Velhos, Índios e Caboclos?

Será que ele não teria pergunta nenhuma a fazer a eles?
Será que ele também submeter-se-ia a fazer restrições às práticas religiosas dos outros?
Não precisa você misturar Umbanda com Espiritismo, como se fosse tudo uma coisa só, porque sabemos que são doutrinas distintas. Mas, ora, só porque são doutrinas distintas, embora ambas utilizem a mediunidade, temos que ver os nossos irmãos umbandistas como se fossem concorrentes ou até irmãos inferiores, como muitos espíritas tem a petulância de rotular?
Use a sua inteligência e tire as suas conclusões?

Kardec e as Igrejas Evangélicas

Estamos vendo, pela televisão, as igrejas do pastor Waldemiro Santiago, lotadas, com vários depoimentos de pessoas dizendo que foram curadas, inclusive mostrando chapas de radiografias, exames de imagens e laudos médicos do antes e do depois.
Ao mesmo tempo sabemos que existem também pastores que de fato são picaretas e que fazem teatralizações nos depoimentos de pessoas, em busca de novos adeptos. Eu mesmo já chequei isto, me relaciono com mais de trezentos pastores e ex-pastores de várias igrejas, inclusive uma que é muito conhecida na TV, pois disto não temos a menor dúvida.
Mas será que Kardec, por causa disto, fecharia questão sobre os evangélicos, consideraria tudo como farinha do mesmo saco e não iria até a igreja do Waldemiro, ou de qualquer outra, a fim de verificar se existe de fato mediunidade e se as tais curas são ou não autênticas?
Será que ele consideraria que todos os segmentos ditos evangélicos são mercenários e que ninguém se sente bem em nenhum deles?

Kardec e as mediúnicas que apenas atendem a “sofredores”

Ao optar por trabalhar em um determinado centro espírita, depois de verificar que aquele centro mantém apenas uma mediúnica por semana e que 80% do tempo daquela mediúnica se destina a atender espíritos sofredores, sem espaço para conversar com os espíritos amigos, você acha que Allan Kardec se calaria diante de tal fato, com receio de ser qualificado como polêmico?
Você acha que ele aceitaria a imposição de que não devemos perguntar aos espíritos o que queremos?
Acha que ele aceitaria conversar com os espíritos necessariamente de olhos fechados e falando baixo, em ambientes escuros?

Kardec e os livros espíritas

Como ele encararia a imposição de que o livro espírita deve ser vendido bem barato, se sempre defendeu que livro espírita deve ser vendido a preço de mercado?

Kardec e a evocação de espíritos

Ao chegar ao centro iria perceber que lá é proibido evocar espíritos e que isto não é permitido na casa.
Como ele iria fazer o seu trabalho, se sempre o fez evocando os espíritos e conversando com eles naturalmente?

Kardec e a gratidão

Ao chegar a um centro, certamente alguém utilizaria a tribuna para saudá-lo, a falar sobre o trabalho que ele fez no período da Codificação do Espiritismo e naturalmente falaria sobre as suas aptidões como educador, mestre, cientista, pesquisador, etc…
Logo em seguida, ao lhe passarem o microfone ele agradeceria pelas palavras elogiosas.

Mas, conforme sabemos, muitos na casa o considerariam vaidoso, por ter agradecido pelos elogios, pois que esperavam que ele dissesse:
“Eu não sou nada disto, eu não mereço nada disto, é bondade de vocês, eu sou um simples trabalhadorzinho que faço um esforço enorme para evoluir um pouquinho. Olhe gente, não acredite em nada que foi dito a meu respeito”.

Kardec e o Magnetismo

Você já imaginou o que fariam com ele, quando ele começasse a falar em magnetismo num centro espírita?
Avalie você mesmo. Vá ao centro espírita que você frequenta e proponha que realizem esse tipo de procedimento.
Será que ele também aplicaria restrições aos expositores que escrevem e fazem palestras sobre magnetismo?

Kardec e André Luiz

Certamente ele iria questionar porque fazem determinadas coisas e porque não fazem outras nas casas espíritas.
Iriam dizer: “Ah, seu Allan Kardec, mas André Luiz diz isto e aquilo”.
Provavelmente ele diria: “Oh, desculpem. Então eu vou reformular tudo o que Codifiquei por orientação dos espíritos coordenados pelo Espírito da Verdade. Diante dessa nova orientação, caso eu venha a sugerir alguma coisa que lhes causem dúvidas, fiquem com André Luiz”.

Kardec e a possibilidade de mudança de ideias

Certamente ele iria propor o aperfeiçoamento e até mudança de ideias em alguns casos.
Seria um escândalo propor uma coisa desta na casa espírita e ele já não seria visto com bons olhos, diante de tal proposta.
“Mas eu mudei de opinião, várias vezes, conforme relato na Revista Espírita, ao longo dos anos. A questão da possessão é uma delas. Por favor, procedam um estudo nessa obra, que vocês verificarão”.
Certamente seria, sutilmente, convidado a se retirar, mas de maneira muito “fraterna”.

Kardec e as mediúnicas

Certamente também ele questionaria o porquê de tão poucas mediúnicas nos centros, a maioria ocorrendo apenas uma vez por semana, mesmo assim com pouco tempo de duração e restrita a uma meia dúzia de pessoas da casa.
“O senhor sabe muito bem que a época dos fenômenos teve o seu período e hoje estamos na época do estudo”.
“Mas meus amigos, quando eu vinculei o intercâmbio mediúnico como fenômeno, o fiz em relação às pessoas leigas, comuns, e não em relação aos espíritas. No meio espírita a relação encarnado desencarnado deve ser vista como relação normal, exatamente como é a de encarnado para encarnado”.

Kardec e os jovens na mediúnica

Vamos que ele fosse admitido a trabalhar numa casa espírita e que até o confiassem à condução da mediúnica.
Um determinado dia, passando pelo salão principal da casa, deparava-se com duas meninas, uma de 12 e outra de 13 anos de idade, e sugeria convidá-las a participar das mediúnicas, como médiuns.
“Senhor Kardec, sentimos muito, mas a casa não admite que essas crianças, com essas idades, participem das mediúnicas.”
“Ora, mas eu trabalhei com meninas também jovens, para que os espíritos pudessem trazer o Espiritismo ao mundo”.
“Pois é, seu Kardec, a casa não admite. André Luiz diz…”

Kardec e os eventos espíritas

Em determinado momento ele visitaria alguns centros e falaria sobre a realização de um grande evento espírita, em um enorme Centro de Convenções, com vários “out doors” espalhados pela cidade, divulgação no rádio e na televisão, e manifestava o seu desejo de participar.
“O quêêêê??? O senhor participando desses eventos? Estão elitizando o espiritismo, isso é mercantilismo e nós não aprovamos; o espiritismo deve ser levados para os pobres”
“Onde foi que vocês leram que o Espiritismo é destinado apenas aos pobres?
Certa ocasião perguntaram-me o que eu faria se ganhasse um milhão de francos. Eu respondi que investiria todo numa ampla campanha de divulgação do Espiritismo, nos principais veículos de comunicação de massa. Vocês não leram isto?”
O pessoal iria ficar danado com ele, mas ele iria participar do evento e ainda ajudaria a divulgar mais pela televisão, pelo rádio, pelos jornais e ainda faria um bonito site pela internet, no facebook e tudo.

Kardec e a humildade

Certa vez, numa reunião na casa espírita aqui, o pessoal da casa o chamou para conversar para que ele contasse detalhes de como foi a sua experiência durante o tempo da codificação do Espiritismo, e ele se dispôs a contar:
- “Pois é, meus amigos. Enfrentei padres, céticos e críticos, alguns deles com argumentos ridículos e estúpidos, para denegrirem a nossa doutrina. Sempre fui duro com eles e não deixava que as provocações e insinuações maldosas ficassem sem respostas.”
- “Um instante, senhor Kardec. Sugerimos que o irmão não falte com a caridade com os críticos e detratores, não convém utilizar-se de palavras chulas, como ridículos e estúpidos”.
- “Pois era assim que eu tratava os detratores, mal intencionados, utilizadores da má fé e da desonestidade de caráter.
Mas continuando sobre a minha experiência: Eu passava noites em claro, preparando, organizando e revisando a obra, eu mandava imprimir os livros e pagava as impressões com o meu dinheiro.”
- “Meu irmão Kardec, você está sendo muito presunçoso, ao utilizar-se o eu o tempo todo, aconselhamos passar a usar o nós, daqui pra frente”.
- “Amigos. Eu fui professor de gramática francesa e autor de vários livros, enquanto professor Rivail. Aprendi e ensinei que quando a ação é feita por uma pessoa, essa deve dizer eu fiz, pois o nós é aplicado quando a ação é realizada por mais de uma pessoa.
Perdoem-me, caso na gramática portuguesa os significados sejam diferentes”.
Esse Kardec é muito presunçoso, não tem humildade e é muito arrogante. Acho bom afastá-lo da nossa casa. É o que diriam alguns.

Conclusão

Com certeza Allan Kardec enfrentaria uma dificuldade enorme se fosse espírita nos dias de hoje. Não poderia utilizar-se da autenticidade e do bom senso que sempre foram suas características.
Mas… mesmo sendo o próprio Allan Kardec?
Sim, mesmo sendo o próprio Allan Kardec.
Para a reflexão de todos.
Abração.

Alamar Régis de Carvalho (São Paulo–SP)
Alamar é orador espírita, Analista de Sistemas e Escritor em São Paulo, SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário