quarta-feira, 31 de julho de 2013

LEI DE CAUSA E EFEITO


1 – Ouve-se sempre o espírita falar em débito cármico, quando alguém passa por determinado sofrimento. O que é o carma?

A expressão não é espírita. Está no hinduísmo e no budismo. Define as consequências de nossas ações, boas ou más, que geram reações que nos atingem na mesma intensidade, nesta encarnação ou nas próximas.

2 – Mas é usada no Espiritismo...

É usada pelos espíritas. Não consta da Codificação. Mais correto falar em ação e reação ou causa e efeito. A diferença é que o carma costuma ter um sentido passivo. A pessoa deve sujeitar-se aos males que lhe são impostos, sem reagir, para fazer jus a algo melhor no futuro. A partir daí temos situações lamentáveis como o sistema de castas que vige na Índia, a consagrar a discriminação, principalmente dos párias, a casta inferior.

3 – O pária não está pagando dívidas?

Sendo a Terra um planeta de provas e expiações, habitada por Espíritos comprometidos com o egoísmo, podemos dizer que todos estamos em prova ou expiação, pobres e ricos, em qualquer segmento da sociedade. A condição social pode ser apenas uma contingência, como nascer numa favela, por falta de melhor localização. Não é pela vontade de Deus que surgem as favelas e as castas, mas pela incúria humana. Deus cria e sustenta a vida. A qualidade de vida é obra do homem.

4 – Se não é um carma, essa situação pode ser modificada?

É esse o ponto. Na lei do carma, a exclusão que caracteriza os párias é irremissível, algo a ser suportado pela vida toda. Sob o ponto de vista espírita, ainda que se trate de uma medida disciplinar envolvendo comprometimentos do passado, é passível de ser amenizada a partir da conscientização da sociedade e pelo esforço do pária em favor de sua própria renovação.

6 – Digamos que alguém tenha matado um desafeto, dando-lhe um tiro no peito. Numa existência futura não deveria morrer assim, também, para resgate de sua dívida?

Isso apenas perpetuaria o mal, porquanto alguém deveria fazê-lo, assumindo carma idêntico. Esse retorno implacável, na mesma proporção, evoca a pena de talião, o olho por olho, dente por dente, de Jeová, o sanguinário deus mosaico, substituído pelo Deus de amor e misericórdia, revelado por Jesus.

7 – E como fica o assassino?

Terá desajustes espirituais, decorrentes de seu ato criminoso, que tenderão a refletir-se em seus estados físicos e emocionais, na presente existência ou em futuras, originando males que lhe ensinarão a superar a agressividade. Paralelamente, será chamado ao compromisso de reajustar-se com sua vítima, compensando-a pelo mal que lhe fez.

8 – Todos estamos sujeitos a essas consequências?

Sim, mas o grau de comprometimento do criminoso dependerá de sua capacidade em distinguir o mal do bem, o certo do errado. Quanto maior o seu discernimento, maior a responsabilidade.

9 – Nossos sofrimentos estão sempre associados ao pagamento de dívidas contraídas em vidas anteriores?

Estão mais relacionados com nosso estilo de vida no presente: o que comemos, o que fazemos, como pensamos… A gordura excessiva, que sobrecarrega o organismo, é mera consequência de um regime alimentar desregrado sem nenhuma vinculação com existências passadas.

10 – O indivíduo obeso sabe que está pagando pela indisciplina na alimentação e o sedentarismo, o que o ajudará a superá-los. Quando se trate de débitos de vidas anteriores, não seria interessante ter consciência deles para suportar melhor suas consequências e ter um estímulo para não incorrer nos mesmos enganos?

O esquecimento do passado funciona em nosso benefício. Favorece abençoado recomeço, sem as lembranças do pretérito, a fim de que superemos paixões e fixações que determinaram nossos fracassos. Nem por isso deixamos de aprender as lições da mestra dor. Por reflexo condicionado, o criminoso que mata alguém e sofre as consequências, incorporará o sentimento de que a agressividade que o induziu ao crime lhe é danosa.

11 – Como saber se nossos males têm sua origem em vidas anteriores ou se são resultantes de nosso comportamento na vida atual?

Os males cármicos são mais entranhados e, não raro, nos acompanham pela vida toda. A perda de um membro, a doença crônica, a esterilidade, a grave limitação física ou mental… Os resultantes dos maus cuidados com nossa vida e nosso corpo desaparecem na medida em que nos tornamos mais disciplinados.

12 – É possível amenizar os rigores da Lei de Causa e Efeito?

Deus nos concede duas moedas para resgate de nossas dívidas – a dor e o amor. Se não há amor, aumenta a dor. Quanto mais amor, menos dor.

13 – Que amor é esse?

O amor evangélico preconizado por Jesus, que se exprime em fazer ao próximo o bem que gostaríamos nos fizessem. É ele que “cobre a multidão dos pecados”, como dizia o apóstolo Pedro em sua primeira epístola.

14 – Os sofrimentos e o exercício do amor promovem a quitação de nossos débitos perante a Justiça Divina?

A quitação definitiva, que exprime a tranquilidade de consciência, será alcançada na medida em que repararmos nossas faltas, compensando nossas vítimas pelos prejuízos que lhes causamos.

15 – Se alguém mata seu próprio irmão para entrar na posse de sua fortuna, como irá compensá-lo pelo mal que lhe fez?

Como se trata de alguém de seu círculo familiar poderá recebê-lo como filho, com o que estará lhe restituindo a vida e os bens roubados. Evidentemente, estamos no terreno das possibilidades. Se a vítima for um Espírito mais amadurecido, seguirá seus próprios caminhos, sem necessidade do concurso daquele que o agrediu. O ofensor também encontrará caminhos alternativos, envolvendo o esforço do Bem.

16 – As dificuldades de relacionamento no lar podem ter sua origem na convivência de inimigos do passado, ligados pela consanguinidade, visando uma harmonização?

Os problemas de relacionamento estão associados à inferioridade humana. Deus não reúne desafetos do passado no lar para se amassarem, mas para se amarem, a partir do exercício das virtudes evangélicas. Perdão, tolerância, caridade, paciência, são remédios infalíveis no presente para neutralizar a animosidade do passado.


Richard Simonetti

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