quarta-feira, 22 de maio de 2013

Aprender a Amar



Sobre Aprender a Amar, Shakespeare e Nietzsche: mudando padrões em nossa vida.

Com o estudo da Doutrina Espírita - e de outras escolas espiritualistas – vemos que o objetivo da vida, não é a autossatisfação, a busca por prazeres ou a acumulação de riquezas. Estamos aqui para evoluir espiritualmente, ou seja, nos distanciarmos de antigos padrões de comportamento e caminharmos em busca da ascensão moral, intelectual e consequentemente, espiritual. Neste sentido, o universo sempre conspira ao nosso favor.
O que significa estar ao nosso favor?
Não significa nos brindar com a realização dos nossos desejos ou fantasias românticas. Significa nos fornecer acontecimentos que temos que entender aceitar e refletir com eles: há alguma lição a ser aprendida.
Irmãos, já perceberam como muitas vezes as mesmas situações voltam a ocorrer? As mesmas dificuldades já antes vividas?
Shakespeare em seu soneto 30 aborda a questão do retorno do mesmo em nossas vidas:

 “Quando em pensamentos silenciosos;
Evoco a lembrança de coisas passadas,
Lamento a falta de muitas coisas que busquei,
E com antigas aflições renovadas lastimo o
desperdício do meu precioso tempo.
Posso então sofrer pelas mágoas passadas,
E recontar cada tristeza com o coração pesado
A triste lembrança de coisas que já sofri,
E que padeço novamente como se antes não
o tivesse feito.”

E assim, padecemos novamente as mesmas dificuldades já vividas.
O Eterno retorno do mesmo, conceito filosófico formulado por Friedrich Nietzsche e acima exposto no soneto de Shakespeare, diz que estamos sempre presos a um número limitado de fatos em nossas vidas. Fatos, situações e dificuldades que ocorreram no passado, se repetem no presente e se repetirão no futuro.
E de certa forma, é natural que vivenciemos situações muito similares, já que nós mesmos pouco mudamos.
Causa e Efeito. Simples assim.
Os relacionamentos humanos são uma escola. Matriculados que estamos na série primária do Amor, negligenciamos o estudo, confundimos a lição, somos desleixados na hora de fazer a prova e acabamos reprovados. E mais de uma vez.
Estamos aqui aprendendo a amar a nós mesmos e aos outros. Aprendendo a desenvolver a capacidade de Amar. E se amar for uma habilidade?
O Amor não é um acontecimento externo fortuito: é algo dentro de nós. É uma habilidade a ser desenvolvida. É uma conquista do Espírito.
Em relacionamentos, por vezes vemos no outro um reflexo de nós mesmos que nos incomoda então buscamos outro “amor”. Achamos que terminamos uma relação, quando na verdade, fugimos de nós mesmos, ou de uma parte de nós que muito nos desagrada que a relação nos fazia ver.
Se relacionar é mais do que conhecer e conviver com o outro, é conhecer a si mesmo. Por vezes aquela pessoa que nos relacionamos é uma oportunidade única de autoconhecimento e de melhoria de nós mesmos.
E nós, agindo como quem não quer olhar no próprio espelho, reagimos, fugimos dos eventos, pessoas e situações, incapazes de olharmos para nós mesmos de forma mais profunda e sincera. Projetamos no outro nossas sombras, potencializamos os defeitos alheios e nos esquivamos de fazer uma autoanálise mais sincera: essa é a fórmula de nossa fuga de si mesmo e responsabilização do outro.
Por fim, terminamos relações. E mais uma vez, matamos o mensageiro, por não gostar da mensagem. Quebramos o espelho, por não gostar do reflexo.
Então buscamos algo “novo”. Até que o novo se torne o mesmo de antes mais uma vez. E geralmente, em doses mais fortes. O eterno retorno do mesmo parece de fato nos perseguir. E seu grito é cada vez mais forte. Seria devido a nossa surdez?
E o Amor?
O Amor verdadeiro poderia estar ali em todas as situações e relacionamentos.
Mas o ego tem dificuldade de enxergar algo além de seus interesses. Inclusive o Amor, que se não o bajula e atende então não lhe serve.
Notem bem que se trata de um verbo, irmãos: “servir”. O ego pode impor a servidão a tudo em seu redor, se não tivermos vigilância.
O ego, nesse momento em que lemos esta mensagem, nos faz reconhecer (projetar?) no outro o comportamento que nos incomoda, quando ele pode ser em grande parte nosso.
O verdadeiro Amor expande as fronteiras de nosso ego: o outro passa a ser eu, também.
O verdadeiro Amor ilumina a sombra de cada um, reeducando nossas tendências menos nobres.
O Amor dignifica. A quem ama e quem é amado.
Não estamos falando do amor romântico: estamos falando da verdadeira capacidade de Amar.
Sejam pais e filhos, namorados, amigos ou desconhecidos, onde o Amor estiver os envolvidos se transformam, as dificuldades se transmutam, a vida se renova.
Emmanuel nos lembra na mensagem “Problema Conosco” presente no livro Justiça Divina que todos temos acertos e desacertos. Todos possuímos sombra e luz. Que ninguém poderá desertar da luta evolutiva e aconselha-nos a continuar vigilantes na melhoria de si mesmo e na certeza de que o amor puro liquidará as tristezas e nos trará a felicidade assim que nós estivermos reeducados moral, sentimental e espiritualmente.
Irmãos, se vocês já conseguem perceber padrões ocorrendo em suas vidas, então já possuem maturidade para fazer algo a respeito. Há alguma mensagem sendo enviada.
Tenhamos a força moral de reconhecer e retificar a nós mesmos, antes de tentar modificar ao próximo. Tenhamos a coragem de olhar nosso comportamento com a mesma crítica que olhamos o comportamento do outro. É preciso termos "olhos de ver".
Até quando teremos o eterno retorno do mesmo, das antigas aflições renovadas em nossas vidas?
Eis a chave para nos libertarmos do eterno retorno do mesmo e parar de padecer antigas aflições novamente: aprender a Amar.
Há algo novo, com mais alegria e paz de consciência à nossa espera, aguardando a condição de se manifestar em nossas vidas.
Não está lá fora. Está dentro de nós.
Só o Amor – vivenciado como verbo e não como substantivo abstrato – poderá nos fazer ter uma vida renovada.
“Senhor, permita-nos a graça de aprender a amar”.

Assim seja!

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